quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Come On

Estou agora com um blog novo. Aos meus leitores, se os há, o endereço segue abaixo. Os textos postados neste blog aparecerão aos poucos no novo blog, em meio à novas postagens.


www.snoopygostaderock.blogspot.com

domingo, 11 de novembro de 2007

Low Vibrations

Por razões pessoais, comunico que este blog não será atualizado nas próximas semanas. Estarei de volta em dezembro. Até lá.

sábado, 10 de novembro de 2007

Outrora

Como posso prever o tédio de domingo, os cavalos disputando por uma cabeça, a televisão na outra segunda-feira, com acessos de fúria e dublagem refeita? Onde me colocaram aqui?

Cem metros rasos.
Corrida de obstáculos.
Qualquer coisa.

Vai passar. Tudo passa sem demora, inclusive as vias obstruídas do trânsito. Sou maduro [verde é manga] e sei o que estou dizendo. Pode esperar. Dois quartos, cozinha e dispensa para empregada. Vista para a piscina. Pode esperar. Na avenida, espera-se a condução e mais parece um luxo pelo tempo assim. Lugar-comum. Acredite, boa localização. Você acompanha o juízo final tomando gim.

Férias remuneradas.
Filhos e contas no fim do mês.
Overdose de remédios.

A noite escura acaba com as ondas retornando ao mar. Fantástico. Seremos crianças outra vez e vamos recriar nossos próprios traumas. Nossos momentos corrigidos pelo reflexo do vento. O vento soprado por nossos antepassados, outrora.

O
Que
Fazemos
Aqui,
Alguém
Sabe
Responder?

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Francisco

O corpo arquejado sobre a janela aberta
para o quintal enquanto os olhos compõem
alguma consideração sobre as manchas impregnadas
[na parede.
As manchas estão também em sua alma e não partem,
entristecendo-o na contemplação das folhas pousadas
no chão de terra batida, envolvendo tudo ao redor
num amarelo tênue.

Francisco queda-se na cadeira próxima e sente
o gosto amargo na boca outra vez; tem dificuldade
de respirar dentro do sossego desta manhã.
E como se acorrentado à realidade que nega,
a realidade imponderável que furta-se a questões ou respotsas,
coloca seu descanso matinal a espreitar sombras
fragmentadas pelo sol que se levanta conivente
com as abstrações de Francisco.

Ele se posta sério e calado e vazio entre planos e ambições
sem substância que suas mãos calejadas tentam
modelar buscando formas e contornos acabados;
mas o equilíbrio se quebra com o chamado para o desjejum.
Francisco adentra a cozinha e encontra sua mulher
carregando a louça, indiferente à sua chegada;
sabe que o cansaço destruiu as expectativas que o tempo
não conseguiu sustentar de uma vida menos dolorosa.

O cheiro do café, porém, o desperta para a libido e tentação
e com a boca entreaberta e as mãos inquietas
aproxima-se dela, transmitindo o calor que esquecera
dentro de si, germinando no silêncio.
A mulher, no entanto, percebe o que se passa e volta-se
com seu olhar transparente, sem esboçar reação.
Francisco compreende que é inútil persistir
e sente-se um homem revoltado no seu próprio lar.

A miséria do amor recebido o derrota
e com algum esforço retorna à janela
para observar o céu demasiadamente grande.
Um pássaro solitário parece suspenso no ar
por fios invisíveis a olho nu.
Francisco é tomado por uma vertigem ao imaginar-se
em seu lugar, manipulado ou preso,
e põ-se a gritar, sentindo sua vida saltar o muro,
[ganhando liberdade.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Retrato Em Preto-E-Branco

Com a fotografia nas mãos, me perguntava: o que revela esse olhar voltado para a lente da câmara, eternizado em preto-e-branco? Tudo ou quase nada? Talvez a pose ensaiada deixasse mais pistas, embora me fixasse nos lábios entreabertos. Vendo-a assim, serena, com uma passividade absurda, perco o fio da discórdia que tal sensação me oferece, ignorando os dez anos que se passou desde então. É um espaço de tempo paradoxal: quando a vejo, não percebo a sua passagem; como se as marcas físicas que se impõe a todos não a atingissem, apenas havendo o lastro da memória. Memória, diga-se, bastante vasta. Mas onde cada experiência se guarda ou se mostra é um mistério para mim. Conheci somente algumas, de relance, camufladas na linguagem usada e nas histórias que conta quando as lágrimas se tornam irreprimíveis. Os olhos, quando úmidos, dão um sentido de peso, de aniquilamento definitivo. Nessas horas, tento imaginar que força se imprime através deles, mantendo-os em expressão terminativa, de ultrapassagem de toda dor que se mantém oculta. Permanece à flor da pele por instantes, até que o viço fascinante de seu jeito se aninha nas dobras do corpo, me prendendo a atenção. Quantas coisas se perderam dentro do seu coração sincero, quantas se juntaram, se estenderam, se resgataram...? Dúvidas que a imagem estática de um retrato tirado há dez anos não responde. Sim, dez anos, e todas suas escolhas a trouxeram até aqui, instigante como uma paisagem, promovendo o que minha imaginação já perfez sobre a foto.

Nos Subúrbios Da Alma

Muitas vezes uma música me remete a uma lembrança que anula o presente: fico imerso por alguns instantes numa realidade só minha, construída com fragmentos intransponíveis à razão. Pertencem a um tempo e lugar que variam sempre, como se brincassem com meus enganos. Fico a navegar entre destroços da memória, antes que a melodia finde e leve consigo todo o seu significado para longe outra vez. Como acordes e versos de uma poesia aleatória podem captar tanto sentimento, cristalizando na superfície uma lembrança que se desfaz em outra e assim seguindo até os abismos da certeza? Nunca sei bem como tal processo começou com cada uma delas. Se acaso um momento da vida tenha ficado retido, feito um instantâneo, na breve passagem do riff melódico sobreposto pelo clima criado pelo teclado e que orienta toda a canção, acabo cedendo à tentação de fugir desse estigma sonoro, mesmo sabendo que jamais ficarei longe de tal prisão imaginária. Uma parte de mim termina presa a outra pessoa, que de algum modo se converte na sua própria obra. É estranho. Você sabe que ela estava completamente longe de sua natureza quando no processo de criação, mas mesmo assim uma ponte foi construída entre os dois mundos, sendo o meu refletido do primeiro. Ma como... Distanciamos de forma tão igual, como uma aproximação por instinto. Quando vê, percebe apenas, ainda que em silêncio, que não se está mais sozinho. E todo o egoísmo não convence sobre a originalidade de seu discurso. Sim, ele é familiar a outrem. Sua dúvida, sua solução, seu erro, sua percepção da vida interior, está tudo lá. E quando o processo se formula num momento de contato dos subúrbios da alma, a mágica se faz de maneira indelével. Mesmo que se sinta desvendado, denunciado, desmontado, desnudado, o seu universo não irá se opor ao cruzamento de impressões intimistas, versões oculares ou ocultas de desejos que não se pronunciam, de planos que não se realizam, de divagações que não se pavimentam pela solidão da tarde em hesitação.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Se Você É O Mar

A minha cabeça é uma bagunça
Que se deixa levar na sua fala mansa
Como um naufrágio em águas profundas.

Meu coração é a praia
Que o mar avança
No seu sossego que assusta:

De você me ficou as idéias
Que atracam antes dos barcos
Com as ondas carregadas de saudades.